25 de nov. de 2017

Quando Kant define o sublime, o filósofo traz o encanto e o pavor diante de algo que é grande demais, forte demais para o sujeito.
Diante de algo sublime eu não sou nada, mas, simultaneamente posso perceber que percebo algo grandioso, maior que minha imaginação, maior que poderia criar.
O sublime nos joga por terra e nos encantamos com nossa própria capacidade de perceber isso.
Assim como o belo em Kant, o sublime não é o objeto – uma montanha, um iceberg, uma tempestade – mas minha relação com ele. Para que essa relação seja possível algo muito simples e específico precisa acontecer: eu preciso estar abrigado, protegido.
Não é sublime o mar revolto se estou no mar, mas se estou na costa e no alto, sim.
Os efeitos das mudanças climáticas, como os furacões que acompanhamos essa semana, fazem parte dessas monstruosidades sublimes que nos ultrapassam, que nos fazem sentir um nada – jorros de prazer e angústia. Por toda parte, na mídia ou em nossas falas abrigadas, longe de Cuba, Miami ou San Martin, um certo prazer é explicito.
- Puxa, será que não é hora, com todas essas tragédias, de tomar uma atitude definitiva em relação ao aquecimento global?
- Mas como? Eu estou abrigado e isso é tão encantador...
- Amanhã será outro lugar, e outro, o mar vai subir, as cidades serão inundadas, os ventos serão devastadores.
- Sim, mas não posso me impedir...
Como qualquer problema político, o aquecimento global passa diretamente por processos subjetivos. A garantia de um abrigo, para nós, para a mídia, para os consumidores de carne e petróleo, nos permite não apenas deixar o aquecimento de lado como viver o sublime.
- Mas como? Temos prazer com o horror dos outros?
- É mais complexo. O sublime não é uma opção, ele acontece. A única forma de separar o sublime do desastre é nos retirar do abrigo.
É sermos afetados pela dor do outro. É vermos no desastre nosso próprio desastre.

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